10 fevereiro, 2017
On 11:55 by Quorum in Aécio Neves, Consultoria Política, Edson Fachin, José Sarney, Lava Jato, Renan Calheiros, Rodrigo Janot, Romero Jucá, Sérgio Machado No comments
Foto: Estadão |
Trata-se
do primeiro inquérito do Petrolão avalizado pelo novo relator. Os quatro
citados no pedido de Janot são suspeitos de tentar obstruir as investigações do
Petrolão depois da divulgação de áudios, em maio do ano passado, em que
discutem assuntos como os rumos da Lava Jato e o impeachment de Dilma Rousseff – destacaram-se na ocasião as
expressões usadas por Jucá, que deixou o Ministério do Planejamento devido à
repercussão do caso: ao comentar o que chamou de amplo acordo nacional, “com o
STF, com tudo”, o peemedebista disse que derrubar a Presidente seria um trunfo
que “estancaria a sangria” de políticos alvos da Justiça.
Por
meio da petição encaminhada a Fachin, Rodrigo Janot faz anotações sobre o teor
dos diálogos e se diz chocado com o que ouviu. “É chocante, nesse sentido,
ouvir o Senador Romero Jucá admitir, a certa altura, que é crucial ‘cortar as
asas’ da Justiça e do Ministério Público, aduzindo que a solução para isso
seria a Assembleia Constituinte que ele e seu grupo político estão planejando
para 2018”, escreve o Procurador-Geral.
Janot
também faz menção a outro trecho das conversas, que foram gravadas por Machado
sob orientação da força-tarefa da Lava Jato, como procedimento pré-delação
premiada. A gravação dos diálogos sinaliza que os peemedebistas caíram na
armadilha. No diálogo em questão, Renan Calheiros diz a Sérgio Machado que
atuou para impedir a recondução de Janot ao comando do Ministério Público
Federal, onde já exerce o segundo mandato, e chega a chamar o Procurador-Geral
de “mau caráter”.
Também
sem saber que era alvo de gravação sigilosa, Sarney menciona a necessidade de
aproximação do núcleo peemedebista com o então relator da Lava Jato, Teori
Zavascki, morto na queda de um avião no litoral fluminense em 19 de janeiro. Em
outra gravação, Renan sugere mudança na legislação para impedir que presos
façam delação premiada. Em outro ponto da conversa com Machado, Sarney sugeriu
a escalação de dois advogados — César Asfor Rocha, ex-Presidente do Superior
Tribunal de Justiça (STJ), e Eduardo Ferrão — para uma conversa com Teori a fim
de evitar uma eventual prisão de Machado.
“Há
elementos concretos de atuação concertada entre parlamentares, com uso
institucional desviado, em descompasso com o interesse público e social,
nitidamente para favorecimento dos mais diversos integrantes da organização
criminosa”, sentencia Janot, na petição acatada por Fachin.
Em
depoimentos de sua delação premiada, Sérgio Machado disse ter distribuído R$ 70
milhões em propina para Renan, Sarney e Jucá, entre outros integrantes da
cúpula peemedebista nos 12 anos em que esteve à frente da subsidiária da
Petrobras. Devido às conversas gravadas e ao teor da colaboração judicial de Machado,
Janot chegou a pedir a prisão dos três peemedebistas – no caso de Sarney, por
causa da idade (86 anos), Janot sugeriu o uso de tornozeleira eletrônica. Em 14
de junho do ano passado, Teori negou o pedido de prisão.
Com
a decisão do Ministro-relator, Renan Calheiros, que já é réu em uma ação penal
no STF, passa a responder a 12 inquéritos no Supremo, nove dos quais referentes
à Lava Jato. Jucá, líder do governo Temer no Congresso, também coleciona
complicações na Justiça: é alvo de oito inquéritos no STF, três deles também no
âmbito da Lava Jato. Por sua vez, Sérgio Machado passa a ser investigado em
dois inquéritos no Petrolão, enquanto Sarney responde a um inquérito, com o que
foi autorizado por Fachin ontem.
Notas públicas dos Senadores
Confrontados
com a denúncia, os políticos negam ter cometido qualquer crime ao tratar de
assuntos da política nacional. Já Sérgio Machado se esquiva de dar mais
explicações e diz que, por ter firmado acordo de delação premiada, não poderá
comentar os desdobramentos desse processo.
“O
Senador Renan Calheiro reafirma que não fez nenhum ato para dificultar ou
embaraçar qualquer investigação, já que é um defensor da independência entre os
poderes. O inquérito comprovará os argumentos do senador e, sem dúvida, será
arquivado por absoluta inconsistência”, diz nota divulgada à imprensa pelo
líder do PMDB no Senado.
Jucá
foi na mesma linha de Renan para se defender. “Em relação à abertura de
inquérito pedida hoje pelo Ministro do STF Edson Fachin, o Senador Romero Jucá
nega que tenha tentado obstruir qualquer operação do Ministério Público e diz
que a investigação e a quebra de sigilo do processo irão mostrar a verdade dos
fatos”, registrou por meio de nota.
"Todo mundo na bandeja"
Em
uma das conversas com o ex-Presidente da Transpetro, Jucá afirma que “caiu a
ficha” de líderes do PSDB sobre o potencial de danos que a Operação Lava Jato
pode causar em vários partidos. “Todo mundo na bandeja para ser comido”, disse
o então Ministro do Planejamento, no áudio cuja transcrição foi divulgada pelo
jornal Folha de S. Paulo em 23 de maio.
Nesse
diálogo, Sérgio Machado, que foi líder do PSDB no Senado antes de se filiar ao
PMDB, diz que “o primeiro a ser comido vai ser o Aécio [Neves, Senador do PSDB
por Minas Gerais]”. E ainda acrescenta: “O Aécio não tem condição, a gente sabe
disso, porra. Quem que não sabe? Quem não conhece o esquema do Aécio? Eu, que
participei de campanha do PSDB…”.
Machado
comenta com Jucá sobre o apoio dado ao PSDB, quando Aécio presidiu a Câmara dos
Deputados, entre 2001 e 2002. “O que que a gente fez junto, Romero, naquela
eleição, para eleger os deputados, para ele [Aécio] ser presidente da Câmara?”,
questiona.
O
ex-Presidente da Transpetro prossegue afirmando que “situação é grave” porque
“eles”, em referência aos membros da força-tarefa da Lava Jato, “querem pegar
todo mundo”. Jucá concorda. “Acabar com a classe política para ressurgir,
construir uma nova casta, pura”, ironiza o peemedebista.
Evitar Curitiba
Em
outro áudio, Sarney promete a Sérgio Machado que o ajudará a evitar que seu
inquérito seja transferido para a primeira instância, em Curitiba, onde as
investigações sobre o esquema de corrupção na Petrobras são conduzidas pelo
juiz federal Sérgio Moro – temido pelos investigados pela relativa rapidez na
resolução dos julgamentos e na contundência das condenações. Mas o trabalho
seria feito “sem meter advogado no meio”, ressalva o cacique peemedebista.
Na
gravação, feita em março, Sarney vislumbra o futuro e manifesta preocupação com
uma eventual delação premiada de Machado, o que acabou por se confirmar. “Nós
temos é que fazer o nosso negócio e ver como é que está o teu advogado, até
onde eles estão falando com ele em delação premiada”, diz o peemedebista. Na
sequência, Machado diz que estavam em curso à época rumores de que sairia
colaboração judicial, possibilidade suscitada na Procuradoria-Geral da
República.
Fonte: Congresso em Foco
Fonte: Congresso em Foco
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