24 junho, 2016
Por Ana Fonseca Pereira
Desafiando os avisos econômicos e as previsões, os eleitores britânicos decidiram que o Reino Unido deve sair da União Europeia, dando um passo que nunca foi dado por nenhum outro país em meio século de história da instituição. Com a contagem ainda a decorrer, as projeções apontam para um vitória de 52% dos votos para os partidários do “Brexit” – a ruptura com Bruxelas demorará anos a concretizar-se, mas a decisão bastou para fazer cair a libra para mínimos em décadas.
Ao abrigo do artigo 50.º do Tratado de Lisboa, cabe ao Governo britânico notificar oficialmente o Conselho Europeu da decisão de abandonar a comunidade – um passo que não se sabe ainda quando será dado – e estipula um prazo de dois anos para a conclusão das negociações. Se não houver acordo por essa data, a saída pode concretizar-se sem acordo, a menos que a totalidade dos restantes Estados decida prolongar as discussões.
As principais figuras das duas campanhas ainda não reagiram oficialmente aos resultados avançados, com exceção de Nigel Farage, o líder do partido anti-europeu UKIP que declarou este “o dia da independência do Reino Unido”. “Esta é uma vitória do verdadeiro povo, do povo decente”, proclamou, no final de uma noite que começou com a divulgação de uma sondagem que atribuía vantagem à permanência, mas que depressa começou a avançar em sentido contrário – passava pouco da meia-noite quando os resultados oficiais de Sunderland, no Norte de Inglaterra, atribuíram uma vitória folgada à saída, com 61% dos votos.
Horas antes da abertura oficial dos mercados europeus, a libra caiu já para valores mínimos desde 1985, naquela que é a maior queda da cotação da moeda britânica de que há registro, maior ainda do que no auge da crise financeira, em 2008. Quedas idênticas são esperadas nesta sexta-feira não só na bolsa londrina, como nas praças europeias.
O primeiro-ministro britânico, que se comprometeu em 2013 a realizar o referendo à permanência, deverá fazer esta manhã uma comunicação ao país. David Cameron garantiu, por várias vezes, que não se demitiria em caso de derrota, mas a sua autoridade – sobre o Partido Conservador e o Governo, ambos dividido neste referendo – está agora em questão. Quinta-feira à noite, mal as urnas encerraram, 80 deputados conservadores que fizeram campanha pela saída divulgaram uma carta afirmando que Cameron “tem o dever e tem mandato” para continuar à frente do executivo, mas não é certo até que ponto o primeiro-ministro terá condições políticas para, como afirma, liderar as negociações com a UE.
Fonte: Público
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